Candela Obscura é um RPG de horror ambientado na cidade fictícia de Novafaire, inspirada no início do século passado. Nele, os jogadores enfrentarão situações aterrorizantes e confrontarão entidades macabras que desafiarão sua coragem e engenhosidade.
A Jambô Editora trouxe para o Brasil o RPG de mesa Candela Obscura, o primeiro jogo da Darrington Press, empresa associada ao Critical Role. Desenvolvido por Spenser Starke e Rowan Hall, e originalmente concebido por Taliesin Jaffe e Chris Lockey, o jogo oferece uma experiência rica para os fãs de horror.
A edição brasileira foi traduzida por Marcel Reis e revisada por Kali de los Santos. Para jogar Candela Obscura, você precisará apenas deste livro, dados de seis lados (d6), uma ficha de personagem e os recursos do Círculo disponíveis no site da Jambô Editora.
Livro Básico
O Livro Básico de Candela Obscura possui aproximadamente 200 páginas e reúne todas as informações necessárias para que os jogadores criem suas personagens, além de recursos indispensáveis para a mestra conduzir o jogo. Entre esses recursos estão detalhes sobre a vida nas Terras de Faire, os distritos de Novafaire, os locais de Velhafaire e até exemplos de Tarefas.
Jogadores familiarizados com Blades in the Dark provavelmente notarão semelhanças em Candela Obscura, já que o trabalho de John Harper serviu como inspiração tanto em termos de mecânicas quanto de tom.
O jogo de Candela Obscura é estruturado em Tarefas concisas: mistérios que podem ser resolvidos em uma ou duas sessões. Durante essas Tarefas, os jogadores investigarão novas ameaças sobrenaturais que representam perigos significativos para as Terras de Faire.

Cada Tarefa segue uma estrutura simples e organizada em fases. Embora nem todas as Tarefas sigam exatamente o mesmo formato, a estrutura fornece uma base sólida para as possíveis ações das personagens e os marcos da narrativa. Normalmente, a história começa com um gancho que apresenta os perigos que afetam Novafaire. A investigação segue as ações dos jogadores e leva à caça de artefatos, pessoas ou criaturas responsáveis pelo mal. Após a resolução do conflito, o Círculo encerra seus deveres ou se prepara para sua próxima Tarefa.
Mesmo ao jogar duas ou três Tarefas com o mesmo Círculo, cada uma delas ainda deve durar apenas uma ou duas sessões. Isso torna Candela Obscura extremamente acessível para quem não tem tempo para campanhas longas ou prefere aventuras curtas.
Para novos jogadores, seja em Candela Obscura ou em RPGs de mesa em geral, o livro é bastante intuitivo e autoexplicativo. Ele apresenta exemplos de situações, narrativas e até inclui uma Sessão Zero, momento em que a mestra pode introduzir o mundo, ensinar as regras e estabelecer a cultura da mesa.
Jogue de maneira segura

Dois temas principais permeiam o Livro Básico de Candela Obscura. O primeiro é a ênfase na natureza colaborativa da improvisação durante a interpretação. Logo no início, ao explicar o modo de jogar, o livro dedica uma seção importante para destacar a relevância do princípio do ‘sim, e…’, incentivando a construção conjunta da narrativa.
Esse foco na colaboração continua como um pilar na seção de criação de personagens, explorando as relações entre os membros do Círculo e as habilidades que podem ser usadas para apoiar os objetivos uns dos outros. A dinâmica entre os jogadores e suas personagens é apresentada como uma peça central para a experiência no jogo.
O segundo tema é a utilização de ferramentas de segurança em RPGs. Já na página cinco, os leitores encontram um link para o Kit de Ferramentas de Segurança em RPG, desenvolvido por Kienna Shaw e Lauren Bryant-Monk. Essas ferramentas não têm como objetivo evitar os elementos de horror, mas sim garantir o conforto de todos à mesa, permitindo que o grupo explore o terror de maneira segura e consensual.
A ideia de que o horror pode ser assustador, mas não inseguro ou desconfortável, é reforçada ao longo do livro. Por exemplo, ao abordar cicatrizes que as personagens podem adquirir, o texto enfatiza que ‘deficiência e doença mental são aspectos da experiência humana e não devem ser usadas como convenientes motivações narrativas para ações malignas ou vilões “malignos”.’
A importância de estabelecer uma cultura de mesa segura também é destacada no guia da Sessão Zero. Esse momento é ideal para discutir os diferentes limites brandos e rígidos de cada jogador. Além disso, cada Tarefa de exemplo traz avisos claros sobre os tipos de horror que podem estar presentes, como horror corporal, violência contra animais ou a morte de um cônjuge.
Embora Candela Obscura se passe em um mundo fictício, suas Tarefas envolvem horrores inexplicáveis que podem tocar em temas sensíveis. Por isso, o livro incentiva que a segurança das pessoas à mesa seja a prioridade. Antes de começar, converse com seus amigos para estabelecer os limites e alinhar as abordagens dos temas que aparecerão durante as sessões.

Sistema
O jogo utiliza um sistema baseado em dados de seis lados (d6). Quando os jogadores decidem qual ação desejam realizar, a mestra instrui como proceder com a rolagem dos dados.
Cada jogador lança uma quantidade de d6 determinada pelos valores de ação indicados em sua ficha de personagem. O resultado mais alto entre os dados lançados define o desfecho da ação, podendo variar entre sucesso total, sucesso com consequências ou um fracasso catastrófico.
As personagens possuem motivações, que funcionam como recursos descartáveis que podem ser usados e recuperados durante a sessão, além de resistências, que ajudam a mitigar as consequências de rolagens desfavoráveis.
Uma característica interessante de Candela Obscura é que a mestra raramente faz rolagens de dados. Seu papel é facilitar a narrativa, interpretar NPCs e descrever as ações dos antagonistas. Por exemplo, se um inimigo ou monstro tenta atacar ou agarrar uma personagem, cabe ao jogador rolar os dados para determinar o rumo da história.
Essa dinâmica, onde todas as rolagens estão nas mãos dos jogadores, traz três grandes benefícios para a experiência de jogo:
- Maior aceitação dos resultados: Como os próprios jogadores realizam as rolagens, os desfechos, mesmo negativos, são mais facilmente aceitos, já que derivam diretamente de suas ações.
- Imersão contínua na trama: Sem a necessidade de pausas para a mestra consultar tabelas ou realizar suas próprias rolagens, a história flui de maneira mais envolvente.
- Foco total na narrativa: Não há pontos de vida, habilidades ou estatísticas a serem consultados para monstros ou NPCs. Isso permite que a mestra introduza personagens e elementos ao jogo sem depender de detalhes mecânicos, mantendo o foco na construção da história.
Essa abordagem coloca os jogadores no centro da ação, criando uma experiência narrativa ágil e altamente imersiva.
Criação de personagem
Candela Obscura é centrado na proteção do mundo contra os efeitos nocivos da Mágicka e das abominações sobrenaturais que emergem através do Clarão, um plano extradimensional. Nesse cenário, os jogadores assumem o papel de investigadores a serviço da organização que dá nome ao jogo. Qualquer evento ou entidade afetada pela Mágicka ou por outras dimensões é chamado de fenômeno.
As personagens formam um grupo conhecido como Círculo, uma unidade que trabalha para defender os ideais da organização, enfrentando perigos e arriscando suas vidas ao investigar eventos inexplicáveis.
Mecanicamente, a construção de personagens combina um Papel e uma Especialidade. Há cinco Papéis disponíveis, cada um com duas Especialidades, totalizando dez combinações possíveis. Essas escolhas são enriquecidas por habilidades específicas e valores de ação adicionais, permitindo personalização e profundidade.
- Sociável: Jornalista ou Mágico
- Estudioso: Médico ou Professor
- Forte: Soldado ou Explorador
- Furtivo: Criminoso ou Detetive
- Estranho: Médium ou Ocultista
Cada Papel oferece raízes narrativas sólidas, permitindo que os jogadores fundamentem suas personagens e construam relações ricas e significativas. Por exemplo, você pode ser um Soldado traumatizado pela guerra ou um Ocultista que sempre soube da existência de monstros compartilhando o mundo conosco. As Especialidades amplas encorajam os jogadores a explorar diferentes aspectos desse universo.
Perguntas para Construção Narrativa
A criação de personagens em Candela Obscura é enriquecida por perguntas específicas que ajudam a aprofundar a interpretação e construir laços entre os personagens. Na ficha, destacam-se:
- Estopim: O que levou sua personagem a se juntar à Candela Obscura?
- Motivação: O que impulsiona sua personagem a enfrentar o perigo?
- Estilo: Qual é o humor e a estética de sua personagem?
- Pronomes: Nome da personagem e seus pronomes.
Essas perguntas não apenas ajudam a moldar a história pessoal da personagem, mas também aceleram a criação de relações no grupo, facilitando laços que se sentem naturais e bem desenvolvidos.
Além disso, o livro apresenta perguntas adicionais para enriquecer os detalhes das personagens. Esse método incentiva uma reflexão mais profunda, explorando as escolhas e experiências que moldaram o personagem. O processo, embora simples, entrega resultados narrativos profundos que outros sistemas podem levar meses para alcançar.
Por serem aventuras projetadas para poucas horas de jogo, esses exercícios de criação e reflexão aceleram o desenvolvimento narrativo. O diálogo entre os jogadores durante a criação de personagens não só enriquece a trama, mas também melhora a dinâmica do grupo, proporcionando um jogo mais coeso e envolvente desde o início.
Assim, Candela Obscura oferece um equilíbrio entre narrativa, mecânica e imersão, permitindo que jogadores explorem histórias profundas mesmo em aventuras curtas.

Narração
Os conceitos centrais de Candela Obscura são cuidadosamente desenvolvidos para guiar a condução de uma sessão de jogo. Uma das principais lições reiteradas no livro é a importância de liderar uma narrativa “focada na ficção”, priorizando as ações narrativas antes de decidir qual rolagem de dados será necessária.
O livro oferece exemplos detalhados para cada tipo de ação que os jogadores podem executar, além de incluir uma transcrição de um jogo de exemplo para ajudar as mestras a entenderem como aplicar essas mecânicas de forma prática.
Para auxiliar na criação de aventuras, as mestras encontram um grande repertório de sugestões de tarefas ao longo do texto. Cada organização no jogo possui modelos prontos de tarefas descritos em 2 a 3 frases. Além disso, o livro traz exemplos de criaturas no final, com parágrafos explicativos que fornecem ideias inspiradoras, além de quatro tarefas completamente desenvolvidas, prontas para serem usadas diretamente em sua campanha.
Considerações finais
Se você e seus amigos têm pouco tempo, mas desejam aproveitar um RPG curto, envolvente e com uma temática de horror intrigante, Candela Obscura é uma escolha certa. Com um sistema intuitivo e acessível, o jogo permite que você comece rapidamente: basta aprender as mecânicas principais, criar personagens e escolher uma tarefa de exemplo para mergulhar na ação.
O Livro Básico de Candela Obscura oferece tudo o que um grupo iniciante precisa para começar a jogar. Ele foi cuidadosamente projetado para ser um aliado indispensável à mestra de jogo, fornecendo ferramentas claras, práticas e bem estruturadas para conduzir a narrativa. Esse suporte garante que a mestra possa facilitar uma história colaborativa, rica e cativante, ao mesmo tempo que mantém o grupo imerso na trama.
Com foco na narrativa e regras leves, Candela Obscura é ideal para iniciantes e veteranos do RPG. Sua simplicidade mecânica permite que a história flua naturalmente, priorizando a experiência imersiva e colaborativa. Para quem busca uma aventura de horror envolvente e fácil de preparar, este jogo é uma experiência que vale a pena explorar.
A cópia do Livro Básico de Candela Obscura utilizada para esta resenha foi adquirida no site da Jambô durante o período de pré-venda.